sábado, 2 de fevereiro de 2013

Expectativas: qual é a medida certa?



            


           Algumas pessoas dizem que a melhor parte da viagem acontece antes mesmo dela chegar: é aquele momento onde temos as primeiras ideias sobre para onde ir e depois escolhemos e imaginamos como seria estar naquele lugar. Começamos a flertar e a estabelecer uma espécie de namoro à distância, conversando com quem já esteve lá, buscando fotos e suspirando por elas, sem nos cansarmos nunca, como um apaixonado que suspira pela amada que está longe. O friozinho na barriga, a mistura de medo com euforia, o coração acelerado quando lembramos que a cada dia a data da viagem se aproxima mais... Quase sem nos darmos conta, somos invadidos pelas expectativas. Mas será que nutri-las faz bem?

Antes de fazermos uma viagem, é natural e saudável que nos preparemos para ela, buscando começar a conhecer aquele lugar e a adquirir informações práticas importantes. Buscamos uma orientação, afinal, ninguém quer ser surpreendido por problemas que poderiam ser evitados por simples informação prévia. Porém, existe o outro lado desse pré-contato com a viagem que é a antecipação desse lugar na nossa imaginação pela busca de prazer. Estas “viagens imaginativas” são deliciosas - para alguns são tão ou mais deliciosas do que a própria viagem. Criamos um ideal e viajamos nele porque é gostoso. Entretanto, “viajar” demais nessa fantasia pode causar frustração depois, pois dificilmente a realidade corresponderá ao ideal que criamos.

A priori, ter expectativas não é algo bom nem ruim. Elas podem ter consequências ruins, dependendo de como as administramos. O segredo para sonhar mantendo o bem-estar está na medida das nossas fantasias. Sim, cabe a nós dosá-las para que elas não se tornem grandes demais a ponto de nos causar desconforto depois. Os sonhos são necessários para que a gente se mova em direção aos nossos desejos – sem eles, muitas viagens nem seriam realizadas – mas as fantasias sobre eles podem acabar sufocando o nosso momento presente, provocando ansiedade ou causando um choque quando contrastado com a realidade (gerando frustração).

Mas qual é a medida ideal de expectativa? Essa medida não é igual para todos: ela varia de pessoa para pessoa e de acordo com cada situação e momento específicos. Entretanto, a meu ver, imaginar um tamanho ideal para uma expectativa é praticamente impossível e ilusório, devido ao seu caráter subjetivo. O que acontece é que há uma dificuldade em saber se é necessário diminuir as expectativas e quando é o momento de começar a fazer isso. E ainda, se é preciso diminuir pouco, muito ou não diminuí-las! Quanto mais explorarmos estes pontos, mais ficará clara a “medida certa”.

Quanto mais você se der conta de que está criando expectativas e de como está fazendo isso, mais fácil e natural se tornará saber quando é a hora de colocar um freio nelas. Listei algumas formas de exploração que podem ajudar. Não são todas necessárias ou obrigatórias, como um passo-a-passo rígido: são apenas sugestões de caminhos exploratórios que podem te facilitar. Siga apenas o confortável e o necessário para você!*

1)       Estar consciente (dar-se conta) de que está criando expectativas aqui-e-agora
Sim, pode parecer pequeno, mas faz uma enorme diferença! O simples fato de estar consciente sobre a sua expectativa – ou seja, simplesmente perceber que está criando expectativas aqui-e-agora – será muito importante para aprender sobre como lidar com elas. A dica número 1 é: pare e preste atenção em você.

2)      Como são essas expectativas?
O segundo passo é a exploração da sua própria expectativa. Apenas continue prestando atenção, só que esmiuçando os detalhes. Imagine que está olhando a sua expectativa. Como é essa expectativa? Você sente que é pequena, média ou grande? Te ocupa muito tempo ao longo do dia? Ela tem formato de pensamentos, de imagens, de sonhos durante a noite? Ou ela aparece em forma de longas conversas sobre o assunto com amigos ou conhecidos? Como ela se presentifica na sua rotina?

3)      Como eu me sinto quando estou com essas expectativas?
Esse ponto é importante para começar a distinguir se as suas expectativas estão te fazendo bem ou mal. Quando se pegar na expectativa, explore como se sente. Podem vir vários sentimentos ou sensações, deixe que venham livremente. Feliz? Ansioso? Com medo? Calmo? Preocupado? Tranquilo? Preste atenção ao seu corpo quando estiver fazendo essa exploração, pois desconfortos físicos indicam desconfortos emocionais. Se lembrar da viagem te causa aperto no peito, ou se o coração acelera a ponto de ser uma sensação ruim ou se te atrapalha a dormir, isso é um sinal de alerta de que a expectativa pode estar sendo excessiva.

4)      Como / para quê / quando crio expectativas?
Pergunte-se como você cria essas expectativas (ex.: viagem imaginativa, busca por fotos, conversas com amigos sobre o assunto, entre muitas outras formas) e quando ou para quê você faz isso (ex.: quando está sem nada para fazer, quando está triste com alguma coisa / para tornar a vida presente menos sem graça, para se sentir mais feliz, etc.). Estas perguntas te ajudarão a identificar a expectativa e saber parar, se identificar que elas estão fazendo mal. Por exemplo: se você percebe que está criando expectativas porque a vida no momento está sem graça, pode buscar outra fonte de prazer aqui-e-agora ao invés de antecipar a viagem nos pensamentos.

5)      Como foi nas viagens passadas?
Tente se lembrar das viagens anteriores que fez e se houve muita ansiedade antes da viagem ou frustração durante a viagem. Se sim, pode ser um sinal de que é hora de diminuir as expectativas nas próximas vezes.

A dica principal é: a melhor medida é aquela que te faz bem!


*Importante: essa exploração pode ser algo difícil de fazer. Se for difícil para você, causando algum desconforto, não insista além do seu limite. Procure a ajuda de um psicólogo: fazer psicoterapia irá auxiliá-lo no autoconhecimento e na aprendizagem para realizar as melhores escolhas.           



Foto: http://maisequilibrio.terra.com.br/diminuindo-as-expectativas-as-decepcoes-tambem-diminuirao-7-1-6-372.html

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