Algumas pessoas dizem que a melhor
parte da viagem acontece antes mesmo dela chegar: é aquele momento onde temos
as primeiras ideias sobre para onde ir e depois escolhemos e imaginamos como
seria estar naquele lugar. Começamos a flertar e a estabelecer uma espécie de
namoro à distância, conversando com quem já esteve lá, buscando fotos e
suspirando por elas, sem nos cansarmos nunca, como um apaixonado que suspira
pela amada que está longe. O friozinho na barriga, a mistura de medo com
euforia, o coração acelerado quando lembramos que a cada dia a data da viagem
se aproxima mais... Quase sem nos darmos conta, somos invadidos pelas expectativas. Mas será que nutri-las
faz bem?
Antes
de fazermos uma viagem, é natural e saudável que nos preparemos para ela,
buscando começar a conhecer aquele lugar e a adquirir informações práticas
importantes. Buscamos uma orientação, afinal, ninguém quer ser surpreendido por
problemas que poderiam ser evitados por simples informação prévia. Porém,
existe o outro lado desse pré-contato com a viagem que é a antecipação desse lugar
na nossa imaginação pela busca de prazer. Estas “viagens imaginativas” são
deliciosas - para alguns são tão ou mais deliciosas do que a própria viagem.
Criamos um ideal e viajamos nele porque é gostoso. Entretanto, “viajar” demais
nessa fantasia pode causar frustração depois, pois dificilmente a realidade
corresponderá ao ideal que criamos.
A
priori, ter expectativas não é algo bom nem ruim. Elas podem ter consequências ruins, dependendo de como as administramos. O
segredo para sonhar mantendo o bem-estar está na medida das nossas fantasias. Sim,
cabe a nós dosá-las para que elas não se tornem grandes demais a
ponto de nos causar desconforto depois. Os sonhos são necessários para que a gente se
mova em direção aos nossos desejos – sem eles, muitas viagens nem seriam
realizadas – mas as fantasias sobre eles podem acabar sufocando o nosso momento presente, provocando ansiedade ou causando um choque quando
contrastado com a realidade (gerando frustração).
Mas qual é a medida
ideal de expectativa? Essa medida não é igual para todos: ela
varia de pessoa para pessoa e de acordo com cada situação e momento específicos.
Entretanto, a meu ver, imaginar um tamanho ideal para uma expectativa é
praticamente impossível e ilusório, devido ao seu caráter subjetivo. O que
acontece é que há uma dificuldade em saber se é necessário diminuir as
expectativas e quando é o momento de começar a fazer isso. E ainda, se é preciso
diminuir pouco, muito ou não diminuí-las! Quanto mais explorarmos estes pontos,
mais ficará clara a “medida certa”.
Quanto
mais você se der conta de que está
criando expectativas e de como está fazendo isso, mais fácil e natural se tornará saber quando é a hora de colocar
um freio nelas. Listei algumas formas de exploração que podem ajudar. Não são
todas necessárias ou obrigatórias, como um passo-a-passo rígido: são apenas
sugestões de caminhos exploratórios que podem te facilitar. Siga apenas o confortável e o necessário para você!*
1) Estar consciente (dar-se conta) de que está
criando expectativas aqui-e-agora
Sim,
pode parecer pequeno, mas faz uma enorme diferença! O simples fato de estar
consciente sobre a sua expectativa – ou seja, simplesmente perceber que está
criando expectativas aqui-e-agora – será muito importante para aprender sobre
como lidar com elas. A dica número 1 é: pare
e preste atenção em você.
2) Como
são essas expectativas?
O
segundo passo é a exploração da sua própria expectativa. Apenas continue
prestando atenção, só que esmiuçando os detalhes. Imagine que está olhando a
sua expectativa. Como é essa
expectativa? Você sente que é pequena, média ou grande? Te ocupa muito
tempo ao longo do dia? Ela tem formato de pensamentos, de imagens, de sonhos
durante a noite? Ou ela aparece em forma de longas conversas sobre o assunto
com amigos ou conhecidos? Como ela se presentifica na sua rotina?
3) Como
eu me sinto quando estou com essas expectativas?
Esse
ponto é importante para começar a distinguir se as suas expectativas estão te
fazendo bem ou mal. Quando se pegar na
expectativa, explore como se sente. Podem vir vários sentimentos ou
sensações, deixe que venham livremente. Feliz? Ansioso? Com medo? Calmo? Preocupado?
Tranquilo? Preste atenção ao seu corpo quando estiver fazendo essa exploração,
pois desconfortos físicos indicam desconfortos emocionais. Se lembrar da viagem
te causa aperto no peito, ou se o coração acelera a ponto de ser uma sensação ruim ou se te atrapalha a dormir, isso é um sinal de alerta de que a expectativa
pode estar sendo excessiva.
4) Como
/ para quê / quando crio expectativas?
Pergunte-se
como você cria essas expectativas (ex.:
viagem imaginativa, busca por fotos, conversas com amigos sobre o assunto,
entre muitas outras formas) e quando ou para quê você faz isso (ex.: quando
está sem nada para fazer, quando está triste com alguma coisa / para tornar a
vida presente menos sem graça, para se sentir mais feliz, etc.). Estas
perguntas te ajudarão a identificar a expectativa e saber parar, se identificar
que elas estão fazendo mal. Por exemplo: se você percebe que está criando
expectativas porque a vida no momento está sem graça, pode buscar outra fonte
de prazer aqui-e-agora ao invés de antecipar a viagem nos pensamentos.
5) Como
foi nas viagens passadas?
Tente
se lembrar das viagens anteriores que fez e se houve muita ansiedade antes da
viagem ou frustração durante a viagem. Se sim, pode ser um sinal de que é hora
de diminuir as expectativas nas próximas vezes.
A
dica principal é: a melhor medida é aquela que te faz bem!
*Importante:
essa exploração pode ser algo difícil de fazer. Se for difícil para você,
causando algum desconforto, não insista além do seu limite. Procure a ajuda de
um psicólogo: fazer psicoterapia irá auxiliá-lo no autoconhecimento e na aprendizagem
para realizar as melhores escolhas.
Foto: http://maisequilibrio.terra.com.br/diminuindo-as-expectativas-as-decepcoes-tambem-diminuirao-7-1-6-372.html
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