terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Quando não estamos sós: a importância das redes sociais significativas


           

           No filme “Encontros e Desencontros” (Lost in Translation - 2004), Bob (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson) se conhecem casualmente em Tóquio, no bar de um hotel de luxo. Ambos estão como turistas na cidade: Bob para gravar um comercial de uísque e Charlotte para acompanhar o marido, um fotógrafo workaholic que a deixa sozinha dias inteiros no hotel. Em pouco tempo, os dois se tornam amigos - uma amizade especial que acaba se transformando em um bote salva-vidas em meio a um ambiente que lhes parece muito estranho. Os dois passam a sair pela cidade e este lugar, que antes parecia entediante e incompreensível, passa a se tornar pelo menos passível de diversão. A relação entre Bob e Charlotte é um farol em meio à nebulosa Tóquio, para esses dois americanos.
            Este filme ilustra de uma forma muito bonita o que em psicologia intercultural chamamos de “redes sociais significativas”. O termo se refere ao conjunto de todas as relações que um indivíduo percebe como importantes para ele ou diferenciadas do restante, como um sistema aberto que possibilita a troca com integrantes de outros grupos sociais. Para Sluzki (1997)¹, esta rede é uma matriz interpessoal que funciona como uma das chaves da experiência de identidade, bem-estar, competência e capacidade de adaptação em meio a uma crise. Tais redes funcionam como um ambiente facilitador durante uma viagem ou uma mudança de país definitiva. No caso de Bob e Charlotte uma rede foi formada e, embora pequena, foi essencial para a permanência dos dois na cidade.
           Moré (2005)² nos dá alguns exemplos de importantes funções desempenhadas pelas redes sociais. São elas:

Companhia social: relacionada com a realização de atividades conjuntas ou estar juntos em determinadas situações “vitais”, tais como: doença, morte de alguém, etc.
Apoio emocional: seria a relação de compreensão, empatia, estímulo e apoio.
Guia cognitivo: está contida nas relações que fornecem informação, esclarecem expectativas e proporcionam modelos de papéis.
Regulação social: neutraliza desvios comportamentais, lembram responsabilidades e favorecem a resolução de conflitos.
Ajuda material ou de serviços: relacionada com uma ajuda profissional específica, incluindo serviços de saúde e sua equipe;
Acesso a novos contatos: fornece abertura para a possibilidade de outras relações além das já estabelecidas e que evidenciam seu potencial de vínculo.

            Viajar para um lugar desconhecido pode ser muito mais agradável quando se está acompanhado. Além de tornar a viagem mais divertida, pode prevenir desconfortos emocionais ao fornecer suporte importante. Sendo assim, anote a dica: se você não tem experiência em viajar sozinho, leve alguém com você ou busque formar alguma rede por lá antes de ir. Pode ser via internet, por exemplo: hoje em dia há comunidades de brasileiros espalhadas pelo mundo todo que fornecem esse tipo de apoio. Planeje-se e boa viagem!



¹MORÉ, C. L. O. O. (2005). As redes pessoais significativas como instrumento de intervenção psicológica no contexto comunitário. Paidéia (Ribeirão Preto), 15 (31), 287-297.
²SLUZKI, C. E. (1997). A rede social na prática sistêmica: alternativas terapêuticas. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Foto: http://viewerscommentary.wordpress.com/2012/02/14/special-review-lost-in-translation-a-personal-valentines-day-reflection/

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