Imersos
na correria do dia-a-dia, dificilmente paramos para pensar no meio cultural
onde estamos inseridos. Estamos confortáveis no ambiente já conhecido e
familiar, e os nossos olhos estão tão acostumados ao cenário que por vezes
precisamos viajar para algum lugar novo a fim de sentir que eles ainda
enxergam. Tudo ao nosso redor se torna natural, comum. Porém, aqui ou em
qualquer outro meio, existe uma situação singular, um código próprio de
comunicação, uma série de simbolismos, de rituais; há uma forma de ser-no-mundo
específica de cada grupo social, com mitos, normas e até gestuais característicos.
Tudo isso faz parte da cultura e ela contribui para a nossa saúde psicológica
muito além do que imaginamos.
Consultando
a literatura sobre o tema, alguns autores nos dão importantes contribuições.
Martins Borges e Pocreau (2009), em um um estudo sobre a identidade como fator
de imunidade psicológica, afirmam que a dimensão cultural possui funções que
atuam no equilíbrio dinâmico do indivíduo, estruturando o seu psiquismo. A
cultura, para eles, é como uma fonte repleta de significações onde o sujeito
pode encontrar os sentidos que necessita para as suas experiências. Ela possuiria
um papel fundamental na estruturação da identidade, na sua manutenção e nas
suas transformações, operando como um “envelope cultural” que estrutura as representações
por meio da língua e delimitando o mundo interno e o mundo externo, ou seja, o “dentro”
e o “fora”. Além disso, seria através da
cultura que os ritos e rituais de iniciação - tais como o nascimento,
casamento, mortes, catástrofes, etc. - seriam fixados.
Indo
um pouco mais além, podemos dizer que a cultura também contribui para a
proteção do psiquismo em situações adversas: ela fornece aos seus membros as
defesas comuns contra a angústia e a solidão, funcionando como “amortecedores
do Real”, expressão utilizada por Laplantine (2007, p.89). Nela seriam disponibilizadas
modalidades para a resolução de conflitos, indicando maneiras de se comportar
em situações de extremo estresse e em momentos críticos e significativos da
existência.
O
enraizamento em uma identidade cultural bem definida, a continuidade de si por
meio das representações culturais e o sentimento forte de pertencimento a um
grupo de referência são elementos que garantem a proteção psicológica do
sujeito e mantém a segurança interna, afirmam os autores. A cultura nos permite
significar e transcender. Nascemos em um grupo e este grupo vai conosco pela
vida dentro de nós, nos permitindo ser quem somos e nos recriar a cada momento,
seja dentro ou fora dele. A sustentação que fora criada é condição para nossos
movimentos e voos pelo mundo.
MARTINS BORGES, L.; POCREAU, J-B. A
identidade como fator de imunidade psicológica: contribuições da clínica
intercultural perante as situações de violência extrema. Psicologia: Teoria e
prática, v. 3, n. 11 (2009), p. 224-236.
LAPLANTINE,
F. L’ethnopsychiatrie psychoanalytique.
Paris: Éditions Beauchesne, 2007.
Muito interessante o artigo, Elisa Florim! Não tinha pensado nisso! Infelizmente não é isso que tem acontecido....o homem está cada vez mais imediatista, se contentando com respostas rápidas e superficiais e que leva o homem a se tornando um ser acultura! Graças a Deus, pelo fato do homem ser racional e ter capacidade de se adaptar a diversas situações, nunca é tarde para mudarmos e buscarmos ser pessoa melhor em todos ou alguns aspectos não só para o nosso próprio bem, mas para o bem de toda a sociedade!
ResponderExcluir